quinta-feira, 23 de junho de 2016

O Field Target Português é um hino ao desporto

Realizou-se este domingo 19/06/16 na Ota a última prova do campeonato português de Field Target e apesar de eu não poder participar ainda por não possuir a licença TAC, desloquei-me na mesma ao recinto no dia anterior para dar uma ajudinha a montar a prova e ficar assim a saber o trabalho que estas coisas dão a por de pé, por vezes é fácil criticar as organizações dos eventos sem saber bem o trabalho que os mesmos dão.
A prova estava a cargo do Clube de Tiro de Campo e com a ajuda dos associados praticantes desta modalidade foi possível numa manhã montar a pista mais a área de zeragem, cada porta penso que se pode chamar assim, tem 3 alvos a diferentes distancias, tamanhos e níveis de altura, a exceção é a última que apenas tem 2 alvos o que no total das 17 portas perfaz os 50 alvos.
As posições de tiro variam entre a livre que por norma é sentado numa almofada com a arma apoiada no joelho, as de pé e de joelho no chão, as armas variam entre as vulgares de mola com cano articulado, de mola com cano fixo e as de topo, as PCP.
Agora que já dei um lamiré a quem gosta de mandar uns balázios mas não conhece a modalidade vamos então ao que cada vez me está a apaixonar mais neste maravilhoso desporto.
Como disse anteriormente ainda não posso participar oficialmente mas lá vou treinando há já cerca de duas semanas, para já só assisti e agora começa a parte boa deste desporto, em Portugal os atletas não são assim tantos que não se conheçam todos, parece uma família, (a minha por exemplo é maior) mais, alguém conhece algum outro desporto onde se possa assistir ao mesmo tempo que se troca umas impressões com os atletas em prova? Não, não estou a falar de atletas de segundo ou terceiro plano, estou a falar de atletas de topo mundial, alguém conhece algum outro desporto de alta competição onde mesmo a disputar os lugar cimeiros os atletas sejam honestos e não se tente ganhar alguma vantagem iludindo ou enganando os outros adversários? Eu pelo menos não conheço.
Para contar o dialogo que comprova isto mesmo preciso dizer que neste desporto cada atirador quando está em prova tem sempre um outro que atira na mesma porta, primeiro atira um enquanto o outro assinala os acertos ou falhanços e depois trocam, o que estava a apontar os acertos vai atirar e o que estava a atirar vai apontar os acertos do adversário e controlar o tempo, sim porque existe um tempo limite para cada porta.   
Ora bem então o diálogo foi assim,
- É pá desculpa lá, esqueci-me de apontar os teus acertos.
- Então, falhei o 10 e acertei o 11 e o 12
- Ok.
Isto não tem nada de mais nem é um exemplo de fairplay se acontecer entre atletas sem ambição na tabela classificativa, acontece que este dialogo aconteceu entre os dois atletas que estavam a disputar o titulo nacional e dois dos melhores atiradores do mundo, um deles já com um titulo mundial no bolso, o que disse que falhou um tiro só falhou quatro dos cinquenta, era muito fácil ter dito que acertou todos, e para cumulo e mais curioso disto tudo é que no final desta última prova ficaram empatados no primeiro lugar do campeonato, sendo necessário recorrer aos regulamentos para decidir quem ficou em primeiro e se sagrou campeão nacional, mais curioso ainda, quem consultou os regulamentos ali mesmo no final da prova foi a mesma pessoa que deu os parabéns ao adversário pela conquista do titulo nacional, ou seja, o vice campeão foi o primeiro a parabenizar o bicampeão.
Ao assistir a isto fiquei a pensar, em que outro desporto não se estaria completamente atendo ao que o adversário estava a fazer? Em que outro desporto se confia na pontuação que o adversário nos transmite? Em que outro desporto não se tenta tirar algo ao adversário e acrescentar ao próprio?
Este simples e pequeníssimo diálogo revelou uma coisa muito, muito rara no desporto, fairplay no seu estado mais puro, o desporto no seu estado mais romantico. Um pequeno episodeo que me encheu o peito de orgulho no meu país, quero lá saber se Portugal é campeão europeu ou mundial de futebol sabendo eu e todos que no futebol desde o presidente ao roupeiro passando pelo atleta, todos tentam lixar o adversário ao máximo, por muito que eu goste de futebol, que goste de ciclismo na vertente de enduro, é isto que cativa e prende as pessoas ao desporto.
Caraças, isto nos dias que correm mexe c`um gajo. Nunca até hoje meti uma bandeira Portuguesa à janela enquanto decorria uma prova de futebol da nossa seleção mas de certeza que vou comprar uma para assistir ao campeonato do mundo de Fiel Target que se vai realizar em Portugal no próximo mês de agosto no meu país.  
 
Quatro dos melhores atiradores mundiais em meia dúzia de metros quadrados
Da esquerda para a direita, Luis Barreiros, Sérgio Rita, Vasco Rodrigues e Ana Pereira
 O Vasco a atirar e a Ana a registar
 A Ana a atirar e o Vasco a registar
 O Luís a atirar e o Sergio a registar 
 O Sergio a atirar e o Luís a registar
 Uma trincheira
 O cronógrafo entre as portas 10 e 11 para medir todas as armas em prova
 Porque nem só de armas vindas do espaço se pode praticar este desporto
Na foto uma Weihrauch HW50
 Air Arms TX200, mola com cano fixo



       

2 comentários:

  1. Um exemplo incrível de desportivismo e camaradagem. Cada vez mais raro nos dia de hoje. Já presenciei situações de grande fairplay nas provas em que participo, mas nada deste calibre.

    Agora a parte polémica do comentário... Se por uma lado é um exemplo a seguir pelos praticantes de outros desportos, por outro lado, acho que, se a competição fosse mais intensa e "selvagem", como no caso do futebol, apesar de não ser um bom exemplo, teria mais adeptos.

    Não percebo nada de futebol, nem tenho o mais pequeno interesse na modalidade, mas acho que a maioria dos adeptos apenas se interessa pelas histórias de "faca e alguidar", passando completamente ao lado da componente desportiva.

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  2. Na verdade é uma comparação que vai de extremo a extremo e estou completamente de acordo contigo, no futebol a maioria das pessoas apenas se interessam pelo resultado mesmo que para isso se tenha de fazer muita batota, havendo infelizmente demasiados casos de dirigentes que chegam a corromper árbitros das mais diversas formas.
    Gosto do futebol enquanto desporto mas reconheço que é um desporto com muito jogo sujo, talvez por isso também goste muito do ciclismo mas não na vertente de estrada mas sim nas vertentes de enduro e DH onde o kit de unhas tem mais relevância que a componente física e o kit d`unhas não se compra nas farmácias.
    Para mim o grande problema do desporto de hoje é o profissionalismo, quanto mais dinheiro houver envolvido num qualquer desporto maior é a pressão sobre os atletas para a obtenção de resultados o que os leva a perder os princípios mais nobres que o desporto tem, o prazer e o convívio com os colegas de equipa e com os adversários.

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