segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O desporto como forma de domesticar egos

 


Os desportos de tiro tal como todos os outros desportos fazem-nos ter a noção do nosso real valor enquanto praticantes de um determinado desporto. 

Penso que não há grandes dúvidas quanto à veracidade desta afirmação. Aqui fala-se de tiro com armas de ar comprimido, como tal é este o desporto que irei abordar obviamente.

É comum assistirmos a videos e falarmos com atiradores que atiram para fazer agrupamentos maravilhosos e para acertar em alvos a distâncias fabulosas, a bem dizer, não tem mal nenhum, todos nós já o fizemos, fazemos e voltaremos a fazer,  não conheço outra forma de perceber qual o projéctil aprovado por um qualquer cano de qualquer arma se não for através de agrupamentos a várias distâncias, o problema é que apenas esta forma de atirar, muitas vezes para não dizer sempre, cria nos atiradores uma falsa sensação de que se é um excelente atirador. E cria porquê? Na minha opinião, porque se atira sempre com as armas apoiadas de forma a minimizar ao máximo o erro do atirador. Basicamente atirar desta forma serve acima de tudo para avaliar o equipamento, a arma, o aparelho de pontaria e o projéctil. Muitos destes atiradores bem equipados que conseguem os tais agrupamentos maravilhosos e acertos a distâncias fabulosas, acabam invariavelmente por achar que são excelentes atiradadores e muitos obviamente que o serão, muitos outros, nem por sombras e muitos dos que não o são, até poderiam na minha opinião vir a ser bons ou excelentes atiradores, acontece que ao atirar sempre por forma a minimizar o erro do atirador, nunca vão sequer saber o que é preciso para se ser bom atirador e a dificuldade para se ser bom atirador, muitos destes supostos excelentes atiradores nunca sairão da sua zona de conforto e nunca irão praticar tiro de competição, pois competir com os outros acabaria por lhes destruir o ego,  que em muitos casos está altamente inflacionado.




Com toda esta conversa não pretendo fazer-me mais que ninguém pelo facto de praticar tiro competitivo, mas este facto dá-me a clara noção do meu valor e do valor dos outros . O desporto de competição mostra-nos não só a nossa valia técnica como também a nossa resiliência psicológica, a pressão de ter de fazer muito bem para alcançar uma melhor classificação é algo que muitas vezes nos faz errar tiros algo fáceis, algo que não existe quando se atira apenas por prazer, quando estamos apenas nós e a nossa arma. Quantas e quantas vezes estou a treinar todo contente com a quantidade de acertos. O certo é que no final de um campeonato, a matemática encarrega-se de me dizer se sou bom, mau ou assim assim.

Já atirei muito para fazer grupos? Já, muita vez, depois comecei a competir e comecei a admirar os realmente bons, atiradores que atiram para fazer grupos apenas quando precisam de testar alguma coisa, atiradores que não atiram a caricas a 100m, até por sorte acertarem. Atiradores que não atiram para fazer vídeos nem para se irem gabar da sorte como se fosse sabedoria em grupos de supostos bons atiradores. Atiradores que de certeza já alguma ou algumas vezes tal como eu atirámos a distâncias malucas para fazer grupos e que acabamos mais por ficar contentes com o material do que propriamente connosco.

Se já leram até aqui, devem achar que estou a ser arrogante mas apenas estou a deixar um conselho. 

Se te achas bom atirador, não percas tempo, vai até ao clube de tiro mais próximo e inscreve-te, vai lá mostrar que és bom porque provavelmente até és. 

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